uma vez vi um filme com título "chamavam-me trinitá", filme esse que contava com a participação de terrence hill mas que jamais contaria em ser alguma vez projectado na sede do clube onde marquei presença, sentado numa tábua corrida entre duas cadeiras de pinho, num dia já indeterminado. exemplo menor do género comedy-western-spaguetti-porradaria, tem esta obra a virtude de ter impregnado o meu espírito (impregnar o meu espírito é sempre uma virtude) com a indelével imagem do herói a ser transportado numa espécie de trenó ou padiola que consistia numa manta (também podia ser um edredão, já não me lembro bem) que ligava dois troncos finos que tinham vértice no dorso de um cavalo subalimentado. de facto, a personagem principal do filme passava muito tempo em trânsito de um local do deserto para outro, dormindo uma interminável sesta sobre a manta, enquanto o cavalo decidia o caminho a seguir. digo decidia com propriedade: via-se bem que o cavalo não sabia o caminho, que não estava ensinado (se eu conhecesse o termo naquela altura estaria capaz de ter usado o termo "aleatoriamente). seja como for, tudo naquela imagem me pareceu (precocemente para a minha idade, quiçá de forma premonitória) absolutamente simbólico: a indecisão e a peguiça tão habilmente resolvidas. note-se que não era uma atitude de "o que vier, vem", atribuível a um desperado, era antes aquela tão peculiar atitude "o que vier, vem, desde que eu não tenha que me esforçar para que venha" que me é tão próxima. as sequências de acção ocorriam sempre e de cada vez que no caminho do cavalo se atravessava uma cidade onde vivesse(m) uma(s) rapariga(s) jeitosa(s).
constatei também que na referida película a dieta habitual consistia inevitavelmente em feijão guisado, facto que mais tarde me pareceu óbvio para figura com tão característico perfil psicológico.
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