2014/02/08

o canhão da nazaré

diamantino já tinha sido avisado de que ela não era para brincadeiras. ela era nazaré, uma alentejana de campo maior, que nunca se habituara ao clima de monção, para onde fora viver a reboque dele. tinha parecido a diamantino que a distância seria suficientemente grande para manter o pai dela, sr. matos, ex-comando na guiné e pouco feliz por diamantino ter fugido com a sua menina, 17 anos, após ele, sr. matos, ter visto morrer a mulher, isabel, mãe da nazaré, dois anos antes, afastado de ambos. decisão acertada. decisão menos acertada foi o ignorar a genética, a propensão para a irascibilidade que a nazaré herdou do pai, os avisos desta referentes à já não tão recente aproximação entre ele e a guida e respectivos silêncios comprometedores. os avisos meteorológicos devem ser levados a sério, e não só esses. quando subia as escadas do quarto na pensão kassimba com as sugestões de guida entre mãos, diamantino estava longe de prever que, na manhã seguinte, quando acordava no tapete do quarto, a experiência da magnitude do canhão da nazaré seria a última coisa que viveria. tinha 28 anos e nunca viu o mar.

1 comentário:

Adr disse...

«a experiência da magnitude» ficou