2022/03/27

after the first gin-tonic...

podemos gostar do trabalho de alguém e não gostar particularmente da pessoa(*).
não gosto de alguns artistas de quem aprecio a obra.
já trabalhei muito proximamente de pessoas de quem não gostava só porque gostava do seu trabalho (com o tempo fui aprendendo a gostar de algumas coisas dessas pessoas. de anjo e de demónio todos temos um louco) 
(não é assim que se diz, eu sei, mas é assim que eu quero dizer. que se foda quem não concorde)

a garota não musicou um poema de joão quadros(*).
é este:

tudo começa numa estrada que termina no alaska 
há um sinal que tem escrito a letras vermelhas: deixe aqui os seus sonhos
desenhou o mapa de tudo o que não conseguiu
com coordenadas 
de objetivos falhados
o X afastava-o dos lugares onde seria feliz
um mapa de oportunidades desperdiçadas
de chances comprometidas
e de atalhos sem fim

gostei e gosto muito deste texto. 
toca-me.
é algo meu, desde que o li.
traz-me à memória o filme "into the wild" que eu passei aos meus alunos, com grande sucesso, por alturas em que eu era feliz em turnos.

por capricho do destino (esta expressão acumula duas coisas que detesto: caprichos e destino) dei por mim a ler um texto que assinalei há uns meses largos, quando tinha tido uma conversa sobre humor e falta de líbido (passe a redundância),  referente a uma entrevista dada por o mesmo joão quadros

o meu pai foi operado, fez um triplo bypass, o ambiente era terrível, e não aguentei aquilo muito tempo. ele ia no elevador com o médico e a equipa para a sala de operações, fui a correr virei-me para o médico e disse: «doutor, por favor» - assim quase de lágrimas nos olhos -, «veja bem o que vai fazer, porque o senhor vai operar o mais espetacular travesti que este país já viu.» o meu pai diz que foram todos a rir para baixo. foi libertador para ele e para mim.

recentemente acusaram-me de sorrir.
sorrir. 
a mim, que tentei nunca rir-me de ninguém. às custas de ninguém. sem que a pessoa pudesse participar.

recentemente acusaram-me de ser racista.
acusaram-me institucionalmente. oficialmente.
a mim, que nunca me julguei superior a ninguém. que "ser como os outros" era, não um objectivo, antes uma miragem, um horizonte, ou qualquer outra coisa igualmente inatingível.


muito muito recentemente assumi um erro de análise. não deveria ser novidade, mas até é.

gostava de ter netos. para que isso aconteça é necessário que os meus filhos não sejam como eu, ou, por outro lado, que sejam tão incoerentes ou pequenamente generosos quanto eu.
espero que, quando conhecer os meus netos (se, claro), não me acusem de coisas assim pequenas...
que espero que não me acusem de nada que não seja compreensível e aceitável.

ou que me acusem de algo que valha a pena... tipo... sodomizar a d. isabel de herédia, que é moça do meu tempo.
sempre tive essa vontade.
ou fantasia, vá.
e ela a dizer-me: chama-me nomes!!...
e eu a dizer: isabel, inês, de castro, curvello (no cú), de herédia, de bragança... !!!!



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