no livro "os cães ladram facas", num poema específico que fala de um tipo de amor diferente, bukowski diz:
ouço os motores na noite
e através do céu uma mão
alva acena:
boa noite, querido*, boa noite.
agora, mais tarde, que relembro a lembrança destes versos numa noite também ela específica, apercebo-me que não foi a poesia que me falhou, mas antes o que falhou foi o timing. melhor dizendo, foi a inadequação entre a consciência da poesia e a consciência do momento.
mas a poesia está acima de certas circunstâncias.
sair-se ileso pode ser poético, tanto quanto o morrer o pode ser.
um dia destes dedicar-me-ei à procura de paralelismos entre a poesia e o zen.
só paralelismos, pois a identificação completa é, por natureza de ambos, impossível.
mote (ou estribilho, ou seja o que for):
paralelismo 1 - tanto a poesia quanto o zen podem ser instrumentalizados na insónia, com igualmente fracos resultados.
paralelismo 2 - tudo o que se disser sobre poesia ou o zen pode ser e será contestado, mais tarde ou mais cedo.
paralelismo 3 - ...
* querida, na tradução original
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follow-up, retirado do mesmo livro:
haverá sempre dinheiro e putas e bêbedos
até à última bomba,
mas como Deus disse,
cruzando as pernas,
vejo que fiz poetas de sobra
mas não muita
poesia.
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