2007/02/08

nesse caso eu não sou homem...

era só por um dia ou dois, que ela nem estava disposta a viver da caridade dos amigos. chegou antes da hora de jantar. comemos juntos o que eu não soube cozinhar.
disse-lhe que poderia dormir na minha cama, de qualquer modo eu adormecia todos os dias no sofá da sala para onde davam as vistas do televisor. notaria mais tarde, depois de ela ter saído, que, na sua quase imperceptível ocupação do meu semi-espaço, tinha colocado uma caixa de cartão contendo a lã branca de umas botas pequeníssimas ao lado da minha pornografia.
dias antes eu tinha-me dito que tudo iria correr bem, que não haveria alteração digna de destaque numa vida, a minha, que se pretendia sem alteração. não tinha nada a esperar daquilo tudo. tinha sido claramente informado, muitos anos antes e de forma a impossibilitar qualquer alteração da situação que eu nada significava para ela "nesse sentido".
após duas semanas de vida em comum sem convivência vi-a, sem querer, tenho a certeza que foi sem querer, principiar a despir-se. vi-a tirar o casaco de malha antracite e, após prender o cabelo com mandíbulas de plástico, desabotoar uma das minhas camisas.
vi-lhe as costas e, ao mesmo tempo, a razão para a sua saída de casa.

desde esse dia, o primeiro dia em que a vi realmente, tudo foi diferente.

1 comentário:

Chefe Maria Caldeira De Sousa disse...

...Tinha pelos no peito, era diferente?

O que é que se passou, coiso????