2007/02/09

peculiar disposição

como se o cotão acumulado no atrito das concavidades dos dias só se pudesse eliminar abrindo a pesada porta para o campo de cinza onde crianças em traje de cerimónia e vendas de veludo roxo corressem com colheres de sopa na boca onde equilibravam sem esforço aparente e nunca deixando de sorrir os seus próprios olhos.
como se todos os cetins internos estivessem rebentamente eminentes por observação incauta de morgados e outros mecenas de tudo o que à vista é aviltante.
como se toda a comunicação fosse impossivel e improvável, a compaixão e a simpatia meros rastilhos de dragões altíssimos e falsos de uma falsidade inversamente proporcional ao seu próprio brilho de outrém.
e todas as barras ocres e azuis de todas as casas onde se matou à facada não fossem mais do que epitáfios contratualmente ausentes na vida dos que desconhecem o quando e o onde cometerão o seu primeiro crime de tantos porquês que lhes assistem.
e todos os poemas pressentidos, ouvidos ou lidos tivessem o encanto da nossa mais abjecta humilhação, da maior ofensa cuspida em nossa cara acessivelmente mortal pelos decibéis e pelo hálito.
e todas as noivas seriam estéreis.
e todos os pajens leprosos.
e todos os morcegos das estátuas citadinas em fotografias de turismo postal.
e todos os abraços queimaduras.
e todos os adornos hemarrágicos, ao dispor de cotos tácteis e opinantes.
e todos os deltas exauridos.
e todos os beijos putrefactos.
e nada...

1 comentário:

Anónimo disse...

Peculiar, realmente. Vou ter de voltar a ler.