2008/04/09

corpanzilla

às vezes apercebo-me que as pessoas têm corpo. reconhecer às pessoas um corpo não é fácil, implica uma noção muito clara de que aqueles que nos rodeiam vivem através desse mesmo corpo.
comunicar é, quase sempre, uma união, melhor, um contacto entre espíritos, mesmo que se utilize linguagem gestual ou se traduzam expressões em mensagens mais ou menos claras.
de facto, neste sentido não é possivel viver vicariantemente.

G., por exemplo, humedecia os lábios antes de me dizer algo mais complicado ou desagradável. fazia-o quase sempre, mas só agora tento imaginar o conjunto de sensações que levarão alguém que não eu a humedecer os lábios. G. humedecia com a língua os lábios enquanto pensava. Não faço a mínima ideia se a minha opinião de que ela é uma pessoa inteligente não se alicerçará mais no prazer de a "ver" pensar do que no pensamento propriamente por si expressado.

as dores dos filhos doem mais porque são deles.

ao meu lado, uma mulher apanha o cabelo num rabo-de-cavalo... maravilhoso o mistério de que pressão se sente na nuca, de que controlo dos dedos (tendões, músculos...)...

quantas pessoas terão estado a falar comigo com o incómodo de uma etiqueta espetado na base do pescoço ou no flanco.

roupa íntima...

o meu colega não pode chegar ao trabalho à mesma hora a que eu chego: anda com dificuldade por motivo de acidente.

o corpo visto não é o corpo vivido.

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