era uma vez um búzio dentro de um copo.
estes objectos haviam sido depostos sobre a mesa apressadamente e, posteriormente, abandonados, não sem antes o artista ter, num acto de ternura surpreendente, colocado um dentro do outro.
mário olhava agora com interesse para o recipiente de vidro e o seu exótico (lembremo-nos de onde estamos) conteúdo. estivera até então muito mais atento ao papel enegrecido pelos anos e pelo pó que se encontrava sob o peso do conjunto, como se de um pisa-papeis se tratasse, e que assim era impedido de cair da escrivaninha alta. mas agora, sob a luz do sol do deserto, ainda intensa apesar de coada pelo vidro sujo da janela, aquele búzio aparecia e revelava-se como uma jóia por, entre outros motivos, um capricho de refracção...
- o que é raro é, quase sempre, precioso, disse para consigo.
o acordar de um motor lister a diesel (martinho, pai de mário, tinha aquele tractor desde sempre) alertou mário da urgência de sair dali...
enquanto subia para o guarda-lamas do velho john deere, mário tenta ainda, pela últma vez:
- devíamos pegar fogo à cabana...
a nuca de martinho estava à altura dos olhos do seu filho e tornou-se momentaneamente um apetecivel alvo para uma machadada, em resposta à indiferença do seu portador. martinho conduzia sem pressas. no entanto nada de visivel aconteceu, tão só um apertar com a mão o pequeno objecto que mário escondia no bolso das calças.
mário não se voltou para trás uma única vez.
1 comentário:
tu e estes cenários míticos
do western...fosses tu 'amaricano' quais irmãos Coen.
fiquei tão triste por causa do cancelamento bah...
beijo
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