2011/10/27

marmelada

"quando alguém se acha doente de si mesmo, respirando continuamente o mesmo ar repleto de imaginários miasmas que envolve a fonte da sua enfermidade, nem o rei de frança, se ainda o houvesse, seria capaz de atalhar tal mal. eu, por exemplo, sofro agudamente de solidão, que é a mais difícil doença de tratar."

in o profundo silêncio das manhãs de domingo, manuel jorge marmelo

já agora, do mesmo autor e na mesma obra, mas noutro e diametralmente oposto registo:

"sobejam os exemplos que demonstram ser pouco razoável contrariar um homem com maus fígados, sobretudo quando o dito indivíduo se encontra armado de uma pistola."

green


twin songs, CMLVII

2011/10/26

sopro

ainda há esperança para este blog: encontrei uns papéis nos bolsos de vários casacos.
pensando melhor,
não há esperança para este blog: encontrei uns papéis nos bolsos de uns casacos.
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ando a ler dois livros.
talvez haja uma réstia de esperança para este blog: nenhum dos livros tem bonecos.
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conheço um puto de 7 anos que diz "hás-de" quando o discurso assim o exige.
conheço um puto de 7 anos que diz "disseste/comeste/etc." quando o discurso assim o exige.
conheço gente* que diz "há-des" e "dissestes/comestes/etc." quando o discurso exige aquilo que o puto diz.
quando eu era engagée o segundo caso irritava-me. por estes dias estou-me nas tintas.
o primeiro caso continua a deixar-me feliz.
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* profes

2011/10/24

misty morning

estava eu numa de limpar aqui o estaminé e encontrei alguns nado-mortos, encontrando-se estes sob a designação de "esboços"...
não sei porquê (a qualidade nunca foi critério para coisa nenhuma, aqui) apeteceu-me resgatar as seguintes palavras (em estrangeiro) ao esquecimento:

 in beauty, in confidence
we were under influence


soaring upon us were a vulture and a dove
we were in love

... feito.

leit her

se não me custasse tanto ainda acabaria aquela coisa do "arles..."
mas, pelo menos aqui, nada me obriga a concluir aquilo que inicio.

biblos

"seria engraçado, se não fosse grave. não é dos livros que tem necessidade mas daquilo que, dantes, se podia encontrar nos livros. (...) os mesmo detalhes minuciosos, os mesmos conhecimentos, poderiam ser transmitidos na rádio e nos ecrãs de televisão, mas não o são. não, não são de facto os livros que procura! pode encontrá-lo em toda a parte, nos velhos discos, nos filmes e em casa dos velhos amigos; observe a natureza à sua volta, procure em si mesmo. os livros são apenas um meio de recolher, de conservar um conjunto de coisas que tememos esquecer. não há nada de mágico neles, absolutamente nada. a magia apenas repousa no que dizem os livros, na rede dos elementos do universo que eles tecem para nos vestir."

"fahrenheit 451", ray bradbury (o que se anda a ler...) (já agora... o roth continua sem me dar aquele coiso assim tão especial...)

2011/10/18

benzin

- ó moço... tu andas por aí com o garrafão da gasolina da motorizada do teu avô... tu andas a magicar alguma... olha que isto fica tudo na mesma e aqueles a quem possa resultar serão os primeiros a te irem buscar o açaime. e se porventura se digam, às primeiras, agradecidos, não te esqueças que é só e só em seu nome que o fazem. e se por ânsia maior não resistas àquilo que congeminas já, assegura-te de que se julgue que é a anjo ou demónio a quem ficarão devedores e, para teu bem, assegura-te da tua intermédia distância entre estes dois, com tudo o que isso te tolhe movimentos e te coloca a salvo de supeitas.

2011/10/17

micro-história, CMLVII

- és livre?
- sim.
- adeus, então...

2011/10/13

black and white divas

vi estes dois clips hoje pela primeira vez. ambos são a preto e branco. às vezes, quando rego o relvado, escrevo coisas no ar com o fluxo contínuo de água que sai, sob pressão, da mangueira. também escrevo caracteres gregos avulso, faço a minha assinatura, figuras geométricas. escrevo frases inteiras. a minha pouca memória para as minhas coisas associada à efemeridade do suporte gráfico permite-me ousar dizer que algumas frases são versos. a música e a efemeridade (das vidas ou das relações, passo a redundância) não me são completamente desconhecidas. neste verão fora de época, posso dizer que a minha "poesia" é bem recebida. o valor das coisas raras.

2011/10/11

solução de recurso

mesmo para um homem corajoso fugir pode ser solução. aquilo a que se chama (erradamente, mas agora não me apetece explicar porquê) "solução de recurso".
é assim tipo um gajo vê o urso, recua, e pisga-se a toda a velocidade.

2011/10/05

shift happens

quando as pessoas confundem indiferença com tristeza isso deverá dizer alguma coisa de nós.
não sei precisamente o quê.