2020/08/11

leituras de viagem

sou um homem a quem faltou muita coisa, sobretudo a coragem. porém, nunca se me desvaneceu a lucidez de o reconhecer; mais: de me aceitar tal como sou. o perdedor tem na derrota uma secreta volúpia.

durante muito tempo  dediquei-me, através da alquimia das frustrações, a mitificar um passado, para mim a maior fonte de felicidade. inscrevia-me nessa lista de pessoas que temem crescer, mas não o admitem. o que atenuou o meu desespero foi o poderoso desafio de viver além da conta e o desejo de ser único. os homens estão divididos entre mutilados e vis. pertenço à primeira categoria, e faço uma tangente com a segunda. nada espero, vivo preparado para tudo.

estou marcado pelo tempo, pelas desilusões, pelo medo e pelas perdas. há algo exterior a nós que somos obrigados a servir. na minha idade já devia ter cuidado. não com o corpo: sempre dele abusei; com aquilo que digo e, até, com aquilo que penso.

(...)

"os homens que estão prontos para morrer é porque nunca estiveram prontos para viver".

in "no interior da tua ausência", de baptista-bastos

2 comentários:

Anónimo disse...

:-*

©carmen zita disse...

Se já sentiste "desejo de ser único", já esperaste (ou esperas) alguma coisa...E não, nunca se vive preparado para tudo.
Beijo "com coraçãozinho e piscadela de olho" no ombro, velho amigo. Longa vida (com ou sem preparação prévia e adequada) é o que te desejo.