sei dançar valsa.
fez parte da minha educação, aprender.
acho elegante, e lembro-me sempre que a valsa foi a primeira dança em que foi aceite, socialmente, o par se envolver mutuamente pelos braços. sempre gostei de coisas revolucionárias e elegantes, ao mesmo tempo. as comunistas tinham tendência a vestir-se mal, em tempos, mas isso não me impediu de amar uma comunista.
passava do duche em frente a um aparelho de televisão ligado e que ninguém via...
fiquei parado a olhar para o mar, no ecrã.
e uma ilha.
e uma ilha específica, no caso o Faial.
enquanto arrefecia continuei em pé, especado, a ver.
impressionou-me o testemunho de um ilhéu, madruga, de seu nome, que fez, em solitário, duas circum-navegações.
só adquiriu um barco aos 49 anos. dois meses antes de partir (iria dobrar o cabo horn e sabia-o. sabia o que isso significava.), 2-dois-2 meses, nunca tinha velejado.
já gelado, continuei em pé, a acompanhar as imagens e os sons.
alguém disse que jacques brel tinha passado pela horta, também ele numa viagem de circumnavegação (que não concluiria).
um médico de origem belga, que o tratou, na altura, àquilo que se pensara ser uma gripe (pouco mais tarde soube-se que era um tumor num pulmão) comentou:
- achei interessante... ele viajava com a filha e com a amante. e isso não é lá muito convencional...
pausei o programa.
fui, finalmente, vestir-me (preciso mesmo de fazer exercício e de perder peso).
alguém perguntou, da sala, por que estava a tv em pausa. respondi, em voz perfeitamente audível (como se isso fizesse diferença):
- porque eu tenho sentimentos ambíguos sobre as convenções...
- quê?
- PORQUE EU QUERO TOMAR CAFÉ A VER O QUE FALTA VER DESSE PROGRAMA!!
jacques brel está sepultado no mesmo cemitério, nas ilhas marquesas, polinésia, onde está sepultado paul gaugin. a sua amante, maddly bamy, está sepultada ao seu lado.
como disse, fez parte da minha educação aprender a dançar.
e não faço a mínima ideia se ou onde serei sepultado.
2 comentários:
mais para o final do programa, alguém dizia que se perde muito mais peso a escrever poemas ou peças de teatro sobre a finitude e absurdo da vida do que a andar em bicicletas todo-o-terreno...
se eu fosse poeta ou dramaturgo...
assim, nunca comparei.
com este texto bem se vê que és escritor (poeta, concretamente, sei que és). adorei <3
(também tenho sentimentos ambíguos sobre as convenções e também não sei se e onde serei sepultada).
gostei de vir aqui aos carapaus.
como nem sempre acontece, fica aqui registado :) e assinado
kiss
carmen zita ferreira
(blogspot, não sou um robô. assimila lá isso de uma vez)
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