2021/02/20

a vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria...

 

sei dançar valsa. 
fez parte da minha educação, aprender. 
acho elegante, e lembro-me sempre que a valsa foi a primeira dança em que foi aceite, socialmente, o par se envolver mutuamente pelos braços. sempre gostei de coisas revolucionárias e elegantes, ao mesmo tempo. as comunistas tinham tendência a vestir-se mal, em tempos, mas isso não me impediu de amar uma comunista. 

passava do duche em frente a um aparelho de televisão ligado e que ninguém via... 
fiquei parado a olhar para o mar, no ecrã.  
e uma ilha. 
e uma ilha específica, no caso o Faial.  
enquanto arrefecia continuei em pé, especado, a ver. 
impressionou-me o testemunho de um ilhéu, madruga, de seu nome, que fez, em solitário, duas circum-navegações. 
só adquiriu um barco aos 49 anos. dois meses antes de partir (iria dobrar o cabo horn e sabia-o. sabia o que isso significava.), 2-dois-2 meses, nunca tinha velejado. 

já gelado, continuei em pé, a acompanhar as imagens e os sons. 
alguém disse que jacques brel tinha passado pela horta, também ele numa viagem de circumnavegação (que não concluiria). 
um médico de origem belga, que o tratou, na altura, àquilo que se pensara ser uma gripe (pouco mais tarde soube-se que era um tumor num pulmão) comentou: 
- achei interessante... ele viajava com a filha e com a amante. e isso não é lá muito convencional... 

pausei o programa. fui, finalmente, vestir-me (preciso mesmo de fazer exercício e de perder peso).

alguém perguntou, da sala, por que estava a tv em pausa. respondi, em voz perfeitamente audível (como se isso fizesse diferença): 
- porque eu tenho sentimentos ambíguos sobre as convenções... 
- quê? 
- PORQUE EU QUERO TOMAR CAFÉ A VER O QUE FALTA VER DESSE PROGRAMA!! 

jacques brel está sepultado no mesmo cemitério, nas ilhas marquesas, polinésia, onde está sepultado paul gaugin. a sua amante, maddly bamy, está sepultada ao seu lado.

como disse, fez parte da minha educação aprender a dançar.
e não faço a mínima ideia se ou onde serei sepultado.

2 comentários:

me disse...

mais para o final do programa, alguém dizia que se perde muito mais peso a escrever poemas ou peças de teatro sobre a finitude e absurdo da vida do que a andar em bicicletas todo-o-terreno...
se eu fosse poeta ou dramaturgo...
assim, nunca comparei.

©carmen zita disse...

com este texto bem se vê que és escritor (poeta, concretamente, sei que és). adorei <3

(também tenho sentimentos ambíguos sobre as convenções e também não sei se e onde serei sepultada).
gostei de vir aqui aos carapaus.
como nem sempre acontece, fica aqui registado :) e assinado
kiss
carmen zita ferreira
(blogspot, não sou um robô. assimila lá isso de uma vez)