"crescera num ambiente complicado em relação ao sexo. o pai sempre fora um malandro simpático, demasiado malandro e simpático para os gostos da mãe. uma vez bebera de mais e confessara ter falhado como marido, saíra-se com a frase bonita - "não consegui fazer da tua mãe minha amante". pois. a mulher, em contrapartida, achara que ele o conseguira bem de mais com outras!"
"imitaram os parzinhos, foram namorados oficiosos à conversa sobre tudo e nada, com uma excepção: o passado dela. Francisco não insistiu. quando o sol se pôs, nas montanhas e não no mar, como ela estava habituada, cavalgaram a vespe e ala apertou-lhe a cintura com mais força, provavelmente por agora descerem e o calhambeque saborear a adrenalina da velocidade. ou talvez não, pois Francisco iniciou a subida rumo ao Puablo Español e a maquineta, reduzida à sua insignificância, trotava a passo de caracol. o facto é que continuou agarrada a ele como uma lapa, seria assim tanto o medo de cair?"
"- mas, na minha idade e nesta casa já vi e ouvi muita coisa, por isso vos digo sem receio: não decidir nada é uma decisão como outra qualquer e significa que as vantagens da situação permanecem maiores do que as desvantagens, apesar do sofrimento que possa existir. (...)
- não será por razões morais que deixareis ou não os homens que se cruzam nas vossas vidas, mas porque dentro de vós algo decidirá que chegou a hora."
"- Cláudia, eles têm razão, até com a cabeça limpa o amor é difícil, quanto mais com pedras no sapato. se desistir de um objecto tão importante e desejado vai se difícil resistir à tentação de o atirar à cara de Ana numa daquelas discussões corriqueiras que surgem na vida dos casais. e não seria justo, não acha? o seu sacrifício estaria sempre escondido na manga, você teria um ás de trunfo para jogar porque a Ana a obrigara a desistir de si por ela. e não é assim, Cláudia, se não fizer a operação será uma decisão sua com determinadas consequências e não um investimento para no futuro lhe dar superioridade moral. de resto, não creio que a alternativa seja necessariamente a separação, pelo menos imediata. compreendo o horror da Ana ao imaginar o desaparecimento de um corpo amado e desejado, mas talvez o erotismo resista à modificação física. se, como disse, ela lhe ama a cabeça, bom, talvez suporte sem dramas um pénis, por alguma coisa, em frança, lhe chamamos la petite différence."
sublinhados num livro não genial, mas ainda assim... "olhos nos olhos", de júlio machado vaz
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:)
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