2009/02/24

squeezin' life out of nothing...

a tradicional e bem alimentada fogueira aquece os rostos de novos e velhos... os 3 porquinhos atravessam um mar de fagulhas até ao outro lado da rotunda (que os mui nobres edis edificaram) a fim de melhor verem o fogo-de-artifício (onde também se notou a crise oficial).
cheiro de cabelo queimado.
sorrir resinosamente da frase: estes foguetes assim fazem-me arrepios.












a generosidade do ex-guru tornou-me mais tolerante, e vá de ir até ao bailarico. sentei-me junto das velhas que guardam os casacos dos novos. eu guardava os casacos dos novos.
um baile, na minha terra, tem sempre (provavelmente sempre teve) algo de grotesco. as crianças, gente encalhada e/ou conformada, as minis, alguns improváveis decotes, o perfil a 3/4 da minha antiga colega de carteira na escola primária que é (hélas) igualzinho ao do seu pai, overdressed people, underdressed people... conversas...a sensação esquisita, porque pouco habitual, de sentir que deveria ter, naquele(s) momento(s) a minha sebenta. saudades do passado, saudades do futuro. uma inadequaçãozinha do lado esquerdo do corpo.

conversas boas fora de festas. a problemática dos pesos relativos, verduras e promessas.

eventos de cariz político/xunga...
rancho folclórico que entristece qualquer um que tenha posto os pés na serra do caramulo.
e a cereja no topo do bolo: após alguns dias a comer frango de churrasco e a beber um dos piores vinhos que me passaram pelo crivo dos dentes, regressar a casa com o infante, de bicicleta, sem iluminação, no cesto destinado a transportar compras ou outras tralhas (já aconteceu transportar cervejas de litro). rir à gargalhada todo o caminho, indiferentes ao frio e ao perigo do instável equilíbrio.

3 comentários:

Anónimo disse...

eu recusar, recuso-me a guardar casacos. sejam de velhos ou de novos. pá...

Carmen disse...

a tua inadequaçãozinha fez-me lembrar um poema do Gonçalo M. Tavares. e agora, só porque fui buscar o livro, vou deixar aqui um comentário de 'peso' (mérito do autor, evidentemente!)

'Às vezes escondo-me no corpo e ninguém me vê.
As pessoas falam comigo e não notam que eu não falo com elas.
Posso até dizer algumas palavras,
posso até exprimir-me num longo discurso,
mas a verdade é que não falo com elas.
Estou escondido algures no meio do meu corpo.
Enfio-me todo no esófago ou no centro da artéria aorta ou na veia jugular,
e, por vezes, quando estou mais tímido, chego mesmo a esconder-me nos músculos da planta do pé.
Apesar de não saber os nomes destes músculos escondo-me lá muitas vezes.
Aliás, é melhor fugirmos para sítios de que desconhecemos o nome: ficamos ainda melhor escondidos.
É a minha opinião.

A minha personalidade a refugiar-se inteira no dedo mínimo do pé esquerdo, vejam bem.
Por vezes acontece-me.
O meu EU alojado no dedo mínimo do pé esquerdo.
Os mais importantes pensamentos concentrados no dedo mínimo do pé esquerdo.
As minhas sensações mais íntimas escondidas no dedo mínimo do pé esquerdo.

Quando me pisam é que é uma desgraça.
Só se tiver a sorte de me pisarem o outro pé.
Quando me pisam o pé mais importante começo a gritar; e começar a gritar é o começo do fim.
Quando gritamos não nos podemos esconder.
O corpo vem todo à pele ver o que se passa.
A pele é como se fosse uma janela.
Quando gritamos de dor, todas as células do corpo vêm à janela, ou seja, à pele, para assistir à procissão.
Mas há muitas células do meu corpo que não concordam totalmente com as minhas ideias.
Obedecem-me porque não têm alternativa, mas nas costas gozam-me e por vezes insultam-me.
Prefiro mesmo assim os insultos.
Os insultos são pequenas pancadas vindas do fundo dos órgãos.
É mais ou menos suportável.
O terrível é quando se põem a rir de mim.
Eu digo:
— Sou um grande acrobata,
e sinto logo algumas células a rirem-se.

As costelas abanam todas.
Os dentes é como se tivessem muito frio.
Os dedos dos pés encolhem-se.
É como se soprasse uma rajada de vento no meio do corpo.
Ainda por cima riem-se de quem as alimenta.
Se isto não é ingratidão, não sei o que é ingratidão.

Células más, um dia ainda vos mato.

O problema é que elas me têm por refém.
É impossível matar as próprias células do corpo sem morrer.

Parecendo que não, esta vida é muito complicada'

...

engraçado, engraçado: in "O homem ou é tonto ou é mulher"... sempre que lhe pego, lembro-me de ti, wondering why (rs).

esse regresso a casa, pareceu-me, esmagadoramente poético (sim, ainda teimo em acreditar que a vida,(SÓ)às vezes, é que não é como nos filmes.

:)

Anónimo disse...

assim, de repente, fez-me lembrar "a vida é bela"...

parece que coisas têm tendência para cozinhar-se melhor quando o equilíbrio é mais instável...

vistas as coisas desse modo, as festas são interessantes... e a aldeia também...

beijos.
(só para quebrar a tradição.)