2009/05/14

not red rose red cherry

parece que havia cerejas, hoje... não soube.
fico satisfeito por haver o que sempre há e haverá, enquanto houver.
hoje o mundo desabou à minha frente mas, apesar disso, flutuei no vácuo até ao ponto onde o caderninho ou sebenta onde agora escrevo se encontrava.
pode, um dia, haver um momento ou juízo final... não me afecta. estarei dentro de uma bolha transparente, a salvo, registando uma versão muito particular dos acontecimentos. escrito tudo numa caligrafia a dar para o indecifrável, em caderninhos pequenos, a tinta preta.
quando se tornou a minha caligrafia indecifrável?
quando se tornaram os meus pensamentos incompreensíveis?
por que razão saberei eu o significado de termos (panisgas) como:
- idiossincrasia
- desadequação
- empatia
- egoísmo
- aridez
- refogado...

tome-se um cardo. os seus tons de verde, de cinza, de azul, de roxo.
atente-se no seu potencial icónico.
pode ser (e é) uma alternativa mais do que viável para uma rosa vermelha.
a intensidade da cor não é menor. a simbologia dos espinhos está mais do que assegurada (para quem gosta de lasagna de figuras de estilo: uma espécie de hipérbole da metáfora).
o cardo é mais fértil, em termos de imagem (não indaguei da eficácia em termos de polinização e coisas dessas...).
poder-se-á argumentar (contra) sobre as cores frias versus as cores quentes. a isso poderia responder com aquela pintura (nota mental: sacar da net) ("o inferno") em que tudo está gelado (impressionante como certas imagens nos impressionam. dupla impressão, portanto).

quando chegar o tempo, dos cardos floridos ou da pertinência, oferecer-te-ei um cardo.
ou a minha vida. ambos têm igual valor, apesar da desigualdade da beleza. a minha vida é mais quente e menos bela... mais ou menos como quando vomitamos marisco (nunca me aconteceu) ou delícias do mar (idem, apesar do nome poético do produto).
voltando atrás... tatuar um cardo não é tão tão fácil... nada é fácil, quando se pensa nisso.

deveria abrigar-me a escrever.
deveria, por maioria de razões, obrigar-me a viver. desabrigadamente.

quando pensamos (nós majestático) em abrigo, pensamos, geralmente, em "cobertura", algo "por cima" de nós, em protecção. mas um abrigo ("em protecção") pode estar por baixo (quem trabalha no arame sabe isto muito bem, mesmo que se esqueça, mesmo que o não pense. também se pode saber ou desconhecer com o corpo).
vive-se sempre sem rede.
deseja-se sem rede, ama-se sem rede, decide-se sem rede. o facto de serem aqueles em queda livre quem melhor consciência tem deste facto é um outro e completamente diferente assunto. (já se falou aqui em queda livre contraposta à euforia do deslize)(também já se falou aqui de "la haine": l'important c'est pas la chute...).


escrever (e ler) deve ser um prazer.
escrevo como quem, como eu, tira um penso-rápido ou entra na água gelada(*): devagar, com sacrifício e sem voltar para trás.

de vez em quando retira-se um penso e repara-se que tudo gangrenou. não é a amputação que custa a sério... é a falta.

mas eu escrevo para mim. sou para mim como escrevo: sem um prazer por aí além, se se pensar em projecção.
se as coisas belas são difíceis, algumas coisas feias não o serão menos.

(*) - era bom mas a manhouce.

3 comentários:

antónio f. disse...

tu estás em período fértil!

(eu vou fazer uma contagem aos meus espermatozóides...)

me disse...

ó pá... deixa lá isso...

Filipa Gonçalves disse...

🖤♥️♥️