2023/06/22

state of the art

bom... por onde começar?

tal como na actividade cinegética, deveria acontecer do seguinte modo: fixava-se uma época, a pessoa fazia o gosto ao dedo e a uma pulsão específica (pode introduzir ambiguidade, assim tão sintetizadozinho, mas quessafoda), e depois, consumia-se o que se obtinha. (conheci uma gaja com umas pernas fantásticas que dizia "obtia").

declaro encerrada (certas pessoas dizem que as minhas declarações de pouco valem) a época de aquisição de livros para estes tempos. 
já tenho muito mais livros disponíveis do que tenho tempo para os ler. se se pensar que tenho, ga-ran-ti-da-men-te 1300-militrezentas-1300 páginas de histórias de vida para ler até ao fim da semana que vem, tásse bem.

há caçadores que não comem a caça que matam. espero muito sinceramente que se fodam mais o seu puro desejo (geralmente não assumido) de matar. é o mínimo da decência, digo eu... 
seja como for, hoje fui aos correios buscar um livro. 
vai-se a ver, trouxe quatro. 
um deles tem uma dedicatória. "se leres este livro até ao fim, faço-te um broche". 
é tentador, mas tenho dúvidas. deste gajo espero tudo. no fim da frase tinha um asterisco. na página 69-sessentinove-69 estava um papelinho com a frase "sim, até ao fim, seu chato. :)"
há certas coisas que me fazem impressão...



uma delas é ver o meu critério de escolha de livros.
acabei por ficar com um ensaio (ruth benedict, padrões de cultura), dois romances (william golding, ritos de passagem (e só porque li o famosíssimo o senhor das moscas há pouco e gostei) e primo levi, se isto é um homem (porque estou agradecido sem ter a quem agradecer, excepto, talvez, aos meus pais, mas isso é meio coiso por estes dias...) e uma coisa chamada fragmentos de um discurso amoroso, de roland barthes.
juntando isto às variações sobre um corpo* (poesia) de ontem e a todo o resto, acho que sim senhor.

foto avulso, que nada tem a ver com o que estou agora a dizer.


agora vou tomar café, pois fiz muitas coisas importantes durante a manhã, incluindo comer as maçãs que, afinal, acabei por não comer ontem visto que achei bué mais interessante fumar uma cigarrilha.
uma mulher muito bonita agarrou-se a mim, por via das baratas. 
uma senhora idosa esclareceu-me: não tem chovido e elas andam doidas por todo o lado. eu lá consegui comentar, sorrindo para a agarrante: "é. até as baratas andam assim..."

às vezes apetece-me desistir de certas coisas e dedicar-me a outras. nunca tive medo de desistir, mas também não é assim à papo-seco, as outras que me perdoem. isto o que é preciso é muita calma nesta hora, que roma e pavia.

a malta tenta comer saudável, deitar tarde e cedo erguer, não se enervar e assim... e o mundo tem tantas coisas.
por exemplo a conversa de uma colega, out of the blue:

- tenho tantas saudades de ser puta...
- oi?
- a sério! ter sexo com fartura, sexo casual, estás a ver? eu sempre gostei muito de sexo. é assim uma coisa... desde que casei, acalmei um bocado. uma pessoa define prioridades. acalmei muito, especialmente desde que fui mãe. comentei isso com o meu ginecologista, o dr. Sidónio.
- sexo casual nunca foi a minha cena, mas sei quem é o dr. Sidónio. também foste parir à bissaya barreto?
- eu? claro que não!! foi no particular, tudo tratadinho. foi cesariana! aliás, fiz questão de esclarecer: só seria mãe desde que isso não implicasse dores de parto e amamentar. e assim foi...
- a sério? conheço uma moça que me disse que, de longe, os melhores orgasmos que teve foi a amamentar...
- ó pá... não sei... nunca achei piada...
- eu gosto.
- cá para mim isso tem marotice...
- tu és tão inteligente... mas não tem de ter. gosto das duas versões, com e sem...
- com e sem quê?
- marotice... gosto da tua maneira de pensar...

outra foto avulso, só para não pensar na runião com enc. de educação (fazia trezouquatro ee's da minha dt). assim tipo bife wellington ou vichyssoise, visto que até já almocei e tudo:


afinal a cena das baratas não é tão específica quanto eu pensava...
parece que em certas zonas da cidade, "especialmente quando não chove", tal como disse a velha, as baratas espalham-se a partir das tampas das condutas de água (não as de esgoto. confirmei junto do técnico, só porque ele estava a babar-se a olhar para a senhora que assustadamente viu em mim o herói anti-insectos que eu jamais me imaginaria) para curtir a cidade.

bom... por fim, tipo naperon, deixo uns versos de uma página, aberta ao acaso, da antologia de poesia receém-chegada nús correios:

humildemente dissipo a solidão, aceito o vosso apelo
         de esperma,
mereço a poesia.

- humildemente repudio a morte.

(do poema Ciclo-I, de herberto helder)


*- estou tão tão tentado a acrescentar, com marcador indelével, na capa, a expressão "... com pintelhos".


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