2009/03/04

embriopost

protoimpressões de palestra:

"eu sou um corpo que diz eu".
eu sou um corpo, logo, não há um corpo que me falha. sou eu que falho, via corpo.

e é isto que é fodido.

(primeira continuação:)
eu sou, também, um corpo que diz eu.
insisto em dizer "o corpo que tenho" e não "o corpo que sou".
eu quero ser um corpo que diz sim.

(segunda continuação:)
provavelmente queria ser um eu que diz sim. queria ser um eu assertivo, eventualmente. mas a quê?
a quê dizer-se sim? a quê dizer-se não? em que circunstâncias?
uma clara e distinta opção entre aquilo a que se diz sim e a que se diz não radica numa compreensão que ainda (eu sou um corpo) não possuo.

remeto (-me) para a última linha do post "corpanzilla":
o corpo visto não é o corpo vivido. dito assim parece de fácil compreensão, mas não o é. quem, por acção de treino, exercício, hábito, vergonha, o que for, passou muito muito tempo separado do corpo pode não ter uma relação com o seu próprio corpo num plano vivencial. vive-se vendo o corpo pelo qual se vive. instrumentaliza-se, na essência, a relação com o corpo e o próprio corpo com que se vive.

mas o que poderá, neste contexto, significar "não viver o seu corpo"? certamente não será a abordagem ao corpo como espécie de templo, como pólo aglutinador de um qualquer culto do próprio corpo(de que o culturismo seria um exemplo paradigmático), que orienta(*) esta reflexão. a questão aqui é a de que essa "separação" entre corpo e espírito, pensamento, é a forma não vivencial de viver o corpo.
pensar-se o corpo próprio como (sempre e só) visto impede a sua vivência como a forma vida de um eu.
tudo isto é problemática do âmbito da determinação "deformação profissional".

paradoxo: tempo, energia, esforço (corporal incluído) utilizados (perdidos?) na reflexão sobre a morte. a consciência aguda da possibilidade eminente da morte. o fundamento da responsabilidade nessa mesma consciência (**). tudo questões que se prendem, tão somente, com o carácter efémero de um corpo. nem a característica de ser o corpo próprio não determina a definição do artigo.
como se pode pensar a própria morte a partir de uma concepção abstracta de corpo (não há, aqui, um corpo próprio em rigor. um corpo próprio seria vivido, como corpo e como pensamento)?
em que se pensa quando se nega a alma e se ignora o corpo (em termos reflexivos e como vida)?

pensar que não se pensou nada (ou que esse pensamento possa ser igual a nada) em todos os momentos em que se pensou também é fodido.

(*) - pode não parecer, mas esta reflexão é orientada. e é reflexão.
(**) - esta passagem sobre responsabilidade apresenta-se com uma incompletude atroz. falta explicitação e fundamentação. pode ser que isso se faça noutra altura, ó o catano!

1 comentário:

me disse...

nem não... a corrigir...