2007/04/12

o primado da linha curva

ele esperava-a há mais de uma hora.
sentia-se ligeiramente impaciente e antecipava o futuro próximo de ambos com o olhar distraído pelo operário que, numa plataforma suspensa por cabos-de-aço, limpava a inscrição dourada "domus iustitiae".
finalmente ela saiu do edifício austero e frio.
ele sentiu o coração bater mais depressa enquanto observava, à distância, a forma elegante como ela descia a escadaria num vestido azul-cobalto que ele sempre tinha achado que lhe ficava bem. era, aliás, o vestido dela que ele sempre mais apreciara, por isso muito adequado a aquele dia especial.
já no passeio, ela prepara-se para chamar um taxi, não sem antes, num acto ritual, confirmar a precisão do seu cronógrafo com o relógio da catedral.
nesse momento, também ritualmente, ele toca levemente a sobrancelha esquerda, roda quase imperceptivelmente o regulador da mira telescópica e, no momento seguinte, prime o gatilho.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei.