vim hoje como venho sempre.
ainda ontem falava na circunstância das rotinas. a segurança e infantilidade inerentes.
mas hoje é um dia diferente: chove, não me sentei na mesa habitual e não tenho horário a cumprir. estou sozinho mas isso não é novidade, apesar de hoje me sentir mais sozinho. hoje posso prolongar os pequenos prazeres decorrentes desta função. posso admirar os tons dourados da espuma do café que (nada acontece por acaso?) combinam muito bem com a cor do bagaço home-made com que costumo acompanhar o café.
reparo agora que, na extremidade da folha onde escrevo, se encontra uma composição que encerra todo o mistério do mundo: chávena de café vazia, com espuma dourada, balãozinho de brandy, quase vazio de água-de-fogo, copo de cerveja, quase vazio, também ele em acordo cromático com o meio envolvente.
há uma triangularidade dourada que me diz que não é importante haver mais do que isto se é isto que se deseja...
lembro-me que não me esqueci de D. no dia do seu aniversário e lembrei-me disso, agora, porque se aqui estivesse me perguntaria em quem estaria eu a pensar. e, se eu pudesse, contar-lhe-ia muitas coisas ao que me diria que eu era mesmo assim e que tivesse cuidado. observadores mais incautos poderiam pensar que o que se pretendia era uma suposta protecção de vítimas inocentes, mas a realidade é que o interesse era pela minha integridade. tem cuidado significa, aqui, tem cuidado contigo. vítimas não inocentes...
decidi-me (!) por mais um digestivo. afinal de contas, os restantes comensais olham com ligeiro desdém para o meu rabo-de-cavalo enquanto se atacam mutuamente com os resultados desportivos das suas equipas de futebol preferidas. e eu sou assim. não custa nada agradar às pessoas.
apetece-me voltar à coisa das rotinas. habitualmente costumo pensar que as rotinas me permitem não pensar sobre várias coisas. dado que não me sinto bem a decidir coisas (não por insegurança, mais por consciência aguda da indiferença) encontro nas rotinas uma certa poupança de recursos. mas a questão importante é outra: o tempo livre ou libertado na adopção de rotinas é usado como? r: não é usado. não é preenchido*
eu sou um nada esponjoso.
(flick-flack encarpado à rectaguarda)
julgo ser formalmente tão fácil magoar quanto (não me ocorre agora ou não me apetece, não sei, o antónimo de magoar) agradar a alguém. se, porventura, consigo magoar a sério alguém (julgo já tê-lo feito. voluntariamente), por outro lado também consigo o oposto (ainda não me ocorre. registe-se a não ocorrência). isto tudo porque, de facto, as pessoas me interessam. todas em geral, algumas em particular, consoante algumas particularidades.
lembro-me (sempre) de uma conversa que tivemos (prezo a tua opinião e costumo reter conversas tidas à beira-mar):
-tu tens recursos suficientes para impressionar as mulheres. generalizo. tu percebes. falta-te, pensava eu que te faltava, uma certa determinação, um ar decidido e confiante. nós apreciamos isso. as mulheres mais inteligentes detectam isso em pequenos pormenores mas não te vou falar nisso. o que se passa é que o teu jogo é outro. expões o flanco. e isso é uma técnica como outra qualquer. é estratégia. afinal, tu escolhes isso, logo, tu tens o controlo sobre a situação.
- complexo de d. juan?
- pior. o donjuanismo assenta em duas situações diferentes: exacerbado amor-próprio e absoluto desprezo pelas mulheres. acho que tu, num movimento, te colocas à margem disto. por vezes acho que tu só gostas (e gostas mesmo. isso seduz, claro) de mulheres porque não gostas de ti.
- a nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer...
- não sejas parvo. tu és parvo.
epílogo:
- então, sr professor, hoje é dia de descanso. deviam ser todos assim, não era?
- espero que nunca sejam...
2 comentários:
O que gostava mais era de ver o poney tale.
Para matar saudades tuas, vá lá man!?
beijito (escroto)
Interlocutor inteligente:)
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