sente-se o vento que sobe o promontório... os olhos custam ver com a água e o sal. tiro o chapéu e deixo-o cair...
felizmente tenho o cabelo comprido e assim aprecio melhor o lugar e o dia.
sinto ainda a dor de me armar em parvo no joelho esquerdo mas é bom sentirmo-nos vivos.
grito com muita força. não digo nada, só grito.
os estranhos com roupas garridas que descem as escadas talhadas na rocha olham para cima e assustam-se um pouco mais.
viro-me para o lado do por-do-sol e vejo a silhueta da carrinha pão-de-forma em contra luz.
à minha frente tudo é negro e azul e branco e azul turqueza e verde. e tudo está em movimento.
deixo-me cair sobre os joelhos e agarro o pó amarelo e setentrional, quase da cor do sítio onde a sei a dormir e que nos tem servido de casa, barco, avião.... os meus braços estendidos ao longo do meu corpo têm 3 metros de comprimento.
o vento faz o meu chapéu western dar duas voltas no ar. eu digo pára e ele obedece a dois palmos do abismo.
o vento cala a desgraça
o vento nada me diz
(não me apetece morrer por um chapéu)
digo foda-se e levanto-me.
enquanto caminho para o parque de estacionamento instala-se-me na cabeça uma canção de que gosto bastante mas de que não sei o nome nem o(a) do(a) intérprete.
...
é a mesma canção que me acompanha quando dizes que eu tenho pedrinhas e sangue colados nos joelhos.
...
é a mesma canção que eu canto muito alto quando ris de puro gozo e da enorme núvem de pó amarelo que deixamos atrás de nós.
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