os dois homens cumprimentavam-se com um aceno de cabeça.
todos os dias, antes do xadrez e após o pequeno almoço que ambos tomavam nas respectivas cabines, dirigiam-se para a varanda oeste do sanatório. divertia-os muitíssimo o espectáculo proporcionado pela sombra da capela com a sua cúpula abaulada (nesta imagem esta sombra constituia um óbvio símbolo fálico) no seu movimento lento em direcção a uma formação rochosa na encosta da colina. era uma pequena fenda entre dois grandes rochedos e na sua base corria num sobressalto suave um fio de águas pluviais. este era o ínico momento do dia em que se permitiam sorrir.
seguida e solenemente tomavam a direcção do salão onde se repetiria o ritual jogo de xadrez.
eram dois homens que se respeitavam.
muitos anos antes, o homem que joga, hoje, com as brancas tinha 17 swastikas pintadas na fuselagem do seu spitfire. o número de roundels pintadas no messershmitt do homem que, hoje, joga com as pretas era, igualmente, 17.
às vezes o jogo acaba empatado.
1 comentário:
parece um texto com um daqueles enredos escritos pelo jorge luis borges...
parabéns.
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