2021/12/06

bojo oco

não toco guitarra.
nunca toquei, é certo, mas não tenho tocado.
não tenho cantado.
não tenho muitas coisas que, acho, sempre me definiram.

é como dizia o outro que até era médico mas poderia muito bem não ser: comer bem, dormir bem, arranjar tempo para me divertir com os meus amigos e olhar para as adversidades com optimismo.

gosto de atum, mas incomoda-me a pesca industrial.
tenho saudades de jogar chinquilho.
as bolsas europeias, apesar da apreensão dos investidores em relação à nova variante, negociaram, hoje de manhã, no positivo.
uma aluna que faz teste neste exacto momento tem uma borbulha na mama direita.

mixed mix

"manter-se a par"... esta expressão significa estar ao corrente, conhecedor do momento em que se está, actualizado.
vou tentando manter-me a par do que, de entre aquilo que conheço, vale a pena ser mantido, conhecido, valorizado, eternizado (?)...



quando foi esse momento que, de fome frio e sede
e tantas noites ao relento, nos morreu o sentimento?

esta música é do tempo do nascimento dos carapaus... 
o tempo é fodido.


 


até que ponto é a vida (e o que nela queremos ou desejamos) importante? que tipo, que prazo, que dimensão tem essa "importância"?
enfim...

2021/12/02

2021/11/25

don't B affraid B kind

 

a referência a isto estava perdida e misturada com um pequeno texto sobre: "some words of advice for young people" ...

mountain-bike philosophy

há uma nova bicicleta de montanha (cujo conceito é muito parecido com o da minha - agressive hardtail) que vem de fábrica com uma inscrição no tubo de selim que diz assim:

happiness and freedom begin with a clear understanding of the principle some things are within your control and some things are not.

for what it's worth... 

2021/11/23

2021/11/17

100 é número redondo (os zeros muito mais do que o um)

diz que ontem foi o início das comemorações do centenário do nascimento de j. saramago...

assinalei isso mesmo citando-o (de forma enviesada, como quase sempre) numa reunião de trabalho.
alguém dizia que a uma turma "faltavam laços empáticos".
saramago ia logo ao cerne, e dizia:
"o amor não resolve nada. o amor é uma coisa pessoal, e alimenta-se do respeito mútuo. mas isto não transcende para o colectivo. já andamos há dois mil anos a dizer isso de nos amarmos uns aos outros. e serviu de alguma coisa? poderíamos mudar isso por respeitarmo-nos uns aos outros, para ver se assim tem maior eficácia. porque o amor não é suficiente.
deixei claro que o respeito era, no contexto, mais desejável e muito mais exequível."

mantenho este blog.
hesito em saber se é uma também mui livre citação de:

"somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não."

skin particles

2021/11/09

ingerência

gerir

imperativo afirmativo
primeira pessoa do plural
giramos nós! 



2021/11/06

leituras de desatino

da autenticidade dir-se-á que é o fenómeno pelo qual alguma verdade do sujeito se torna visível e compreensível para os outros. e esperançosamente para si mesmo também. o autêntico é a forma sob a qual se poderá dar a possível e maior aproximação ao Outro.


"dormir sem sonhos é o cúmulo do génio, pois é a perfeita arte do nada”, 
Ferro, N., Estudos sobre Kierkegaard

é bem sabido o valor terapêutico e vital que o humor tem. quem não sabe rir de si próprio perdeu o espelho. o preço da independência é duplo: quem arrisca, arrisca-se, e quem não arrisca, perde-se.


2021/11/05

b/w

adornos, alardes e desplantes

o tempo escorre-me por entre os dedos
dedos esses
que fazem um movimento helicoidal,
em simultâneo com a rotação do antebraço.
ouve-se Tó Trips,
por ele e por princípio: 
qualquer pessoa que componha uma peça musical com o título "o amor em tempos fodidos" terá a minha atenção.
não tenho voz e tenho tanto para dizer.
não tenho esperança e tenho tanto para fazer.
não tenho vida e tenho tanto por que não morrer.
julgo que a felicidade deposita os seus ovos nos dias
ovos esses que se transformarão em larvas
que fazem um movimento helicoidal,
em simultâneo com a rotação do antebraço.
não tenho por princípio:
qualquer pessoa que componha a minha atenção terá o meu tempo.

tenho tosse.
hoje entrei num espaço e ouvi:
lá vem mais um covid...
afonicamente, disse:
pó caralho...

a felicidade deposita os seus ovos nos meus dedos,
dedos esses que se transformarão em larvas.
o apagamento da voz.
a rotação da esperança.
a divisão da vida.

2021/10/29

só para que conste...

apercebi-me logo, no momento 
senti o ar frio de velocidade a passar no espaço entre o lenço folclórico-árabe que usava
senti os joelhos a existirem, a dar-me notícia disso

constipei-me ao mais ligeiro arrefecimento nocturno
sou tão fraquinho, fragilzinho, coisinho

e não sou

2021/10/20

dói-dói

clash of titans

spice


 

pearls

(graças a todos os deuses tenho de usar sempre máscara no trabalho. assim, posso rir-me sem pudores do que se passa ao meu lado)

- olha... hoje mandei uma para o hospital...
- então?
- bateu-lhe uma bola assim na mão...
- epá... eu já tive lesões dessas... a bola deve ter apanhado a mão em ponto morto e fez isso...



2021/10/07

surya namaskar

ficarias orgulhosa de mim.
fui só por ir, como quem não quer nada...
vi o sol, 
o dia 
e o mundo.
vi tudo o que permanecerá depois de mim e vi tudo o que me preexistiu (por esta ordem).

estava capaz de jurar que te saudei na pessoa de um caminhante solitário que me sorria enquanto cantava, sem som mas com a boca muito aberta, uma canção que deveria existir apenas na sua cabeça, não obstante ele ter headphones... 
tenha-o eu feito ou não, mantém-se a oportunidade da conversa que teríamos:

- sentiste-te bem?
- sim.
- mereces...
- isso não sei. mas naquele momento acreditei em mim...
- devias. sempre.
- sem qualquer razão para isso...
- és tão parvo.

cherry picking

trabalho (tento trabalhar) enquanto ouço música. 

reflexão (?) acessória e impertinente: 
talvez o hábito de depositar a esperança no que é longínquo tenha como expressão, na velhice, a esperança de não ter esperança. tudo basta a quem nada deseja. 
ou, na versão de deambulações nocturnas, tudo é ousado para quem a nada se atreve. 

uma canção de que gosto muito tem estes versos (para mim é só um verso, mas eu não percebo destas coisas): 

vai chegar o dia em que o medo não faz parte
e, por muito que tarde, esse dia é teu 

e há um video-clip numa pedreira, onde dois amigos parecem namorados.

de coisas giras em pedreiras, gostei muito desta obra:



d'pois

jardim do amor

 


2021/09/30

2021/09/21

questões circunstanciais, como diz o almirante...

alguém de quem gosto lembrou-me que leonard cohen nasceu neste dia, em 1934.
lembrou-me com duas ou três frases dele:

"estamos no mundo de forma tão superficial. 
é no amor que somos feitos.
é no amor que desaparecemos."

talvez desapareçamos na falta de amor, mas não sei...
não sei se saberei alguma coisa, aliás.

as horas belas são as dos outros, ou as que não há

tenho dito
dito e feito
feito o quatro
quatro em linha
linha curva
curva estrada
estrada larga
larga mão
mão na água
água pura
pura vida
vida curta
curta chega
chega pouco 
pouco tenho
tenho dito
dito e feito
feito o quatro
quatro em linha

pop

autobiografia hiper-ultra-condensada a partir de referências culturais avulsas:
- dreams at midnight (1)
- the night is dark and full of terrors (2)

(1) - a nova cria dos madrugada
(2) - em contexto de "os últimos cartuchos"

2021/09/10

sublinhados meus

enquanto calamos as perguntas mantemos a ilusão de que poderemos vir a saber as respostas

in "o ano da morte de ricardo reis", de josé saramago

padstow farewell

2021/09/09

2021/08/25

quarta-feira

 o filósofo pode, por vezes, amar o infinito, o poeta ama sempre o finito.

g. k. chesterton, "o homem que era 5a. feira" 

2021/08/19

stradivárias

 






they shoot horses too, don't they?

golfines de arriba e de abajo

 


lentalenga

seja alma ou coração
vivo em fora de mão
seja descrença ou fé
vivo em fora de pé
seja alma ou coração
vivo em fora de mão
seja descrença ou fé
vivo em fora de pé
seja alma ou coração
vivo em fora de mão
seja descrença ou fé
vivo em fora de pé
seja alma ou coração
vivo em fora de mão
seja descrença ou fé
vivo em fora de pé
seja alma ou coração
vivo em fora de mão
seja descrença ou fé
vivo em fora de pé


the way things are

(sunset cerimony)
...
- podemos comer noodles... apetece-te noodles?
- eu não quero falar em noodles neste momento.
- ok...sorry...


2021/08/02

eva viva eva

diz saramago, n' "o ano da morte de ricardo reis", que todos os homens são adão e todas as mulheres são eva, mas que as mulheres, hoje, são mais eva do que os homens adão.
acho que a ideia é esta.
não sei se concordo...
seja como for, um dia destes tenho de anotar aqui os meus sublinhados desse livro.

2021/07/31

prémio de consolação


noutra vida dei por mim com uma guitarra nas mãos,
com outros gajos também com guitarras nas mãos.
nunca tive a disciplina para aprender a tocar com um mínimo de qualidade
(nem para outra qualquer coisa, acho)
mas existe música em mim.
sempre existiu.
por mais desajeitada que seja a minha forma de a expressar,
a minha forma de a sentir,
a minha forma de a viver.
não faz mal.

também nunca ganhei um prémio (se ganhei foi por acidente).
pelo menos dos que esta canção fala logo no início...

revenir


deram-me a conhecer isto.
e isto tocou-me.

"...
sur toute une vie dont il n'est rien resté qu'un tatouage obsolète
sur ma peau delavée...
...
marcher dans les rues à pleins poumons, 
l'odeur des femmes
de leur giron... "

"ao longo de uma vida da qual nada resta, 
exceto uma tatuagem obsoleta na minha pele desbotada...
...
andando pela rua a plenos pulmões,
o cheiro das mulheres, do seu seio..."

2021/07/29

ex-estância

é o tempo 
do artifício 
de não existir tempo.

é a vida
e o malefício 
de ser só uma.

acontece o vento, que passa por nós como se nos conhecesse, tocando-nos.

e ao chegarmos à praia
há uma voz que nos chama.

hollow

 “between the idea
and the reality
between the motion
and the act
falls the shadow

between the conception 
and the creation
between the emotion
and the response
falls the shadow

life is very long

between the desire 
and the spasm
between the potency
and the existence
between the essence
and the descent
falls the shadow ”

t.s. eliot, "the hollow men" (excerto)

2021/07/28

2021/07/26

i had these sunglasses...

deep insertion


 

hell bound

 


o meu comentário a esta imagem, que representa a aleitação de s. bernardo de claraval, publicada por um amigo:
- quem nunca?...

em paralelo, ocorreu-me uma legenda:
- olha-me nos olhos quando trato de ti...

não sou exemplo para ninguém.

2021/07/22

2021/07/19

2021/07/13

padrões

um bacano, no exame, respondeu à escolha múltipla em maiúsculas:
CACAABBADC

eu vejo mais além: 
CACA
ABBA
DC

agora é só arranjar uma teoria da conspiração que encaixe aqui e está feito...


2021/07/12

"da educação dos príncipes" ou "o déspota"

tendo incorrido na prevaricação habitualmente designada, por aqui, pelo menos, de parvoíce, foi o mainovo incumbido de tarefa específica.
apresenta-se o resultado:

Após uma detalhada, e inoportuna, pesquisa, dei-me a conhecer, para agrado do meu pai e progenitor, a história mitológica de Dâmocles. Reza a lenda que Dionísio reinara Siracusa, uma grande cidade na ilha de Sicília de uma forma tirana e atroz. Contudo Dionísio era um homem poderoso, tinha um grande palácio, muitos criados, vinhos raros, festas constantes. Dâmocles seu amigo, considerara-o o homem mais feliz do mundo e sentia também alguma inveja. Um dia Dionísio propôs um acordo: Dâmocles passava um dia no seu lugar para realmente averiguar se Dionísio era, de facto, o homem mais feliz do mundo. Dâmocles aceitou e teve de facto um dia divino, digno do homem mais feliz do mundo, no entanto a certa altura olhou para cima e reparou numa espada presa ao teto por um tênue fio com uma lâmina que a qualquer momento podia cair e acabar com toda aquela felicidade. Depois deste episódio, Dâmocles apercebeu-se de o quão ilusória é a felicidade dos ricos e poderosos.
Esta bonita história é excelente porque nos representa a todos. Dâmocles representa a inveja que nós temos em relação aos poderosos, e Dionísio representa a ideia da morte que está tão presente quanto a espada sobre a sua cabeça. No entanto Dâmocles não estava errado ao julgar Dionísio como um homem feliz, pelo contrário, porque (na minha opinião) apenas podemos ser felizes se tivermos de facto muito a perder. Todos nós temos de facto uma espada suspensa por cima das nossas cabeças, e às vezes só quando estamos, de facto, a ser felizes é que nos lembramos da fria espada.
Como seres humanos que somos iguais a Dionísio, podemos ter todo o poder do mundo, mas a espada está sempre lá, e nunca se vai embora.

é assim.
a vida custa a todos e as coisas são como são.

2021/07/08

pilha

sou daquelas pessoas que tem os livros de mesa de cabeceira espalhados pela casa.
na dita mesa de cabeceira jazem, neste momento:
os crimes do amor, marquês de sade
o estorvo, de chico buarque
o ano da morte de ricardo reis, de josé saramago
epítome de pecados e tentações, de mário de carvalho

há quarenta e um anos, mais ou menos, eu tinha uma bicicleta verde, que tinha um suporte com umas molas que seguravam com grande eficácia três ou quatro livros, maioritariamente de banda-desenhada.
eu lá ia, não sem alguma dificuldade devida ao sobrepeso e aos desníveis, até um local que achasse aprazível, à sombra de uma árvore, afastava-me do mundo (dos outros) e não reparava na passagem do tempo. habitava uma realidade paralela.
ainda hoje gosto de ler, mas sou menos esquisito com o local ou ambiente circundante. o afastamento consegue-se, não obstante.

sou e não sou, hoje, a mesma pessoa.

a vida de hoje torna difícil a procura de sombras aprazíveis e a passagem do tempo faz-se anunciar tantas vezes de forma violenta e inoportuna...


2021/07/07

namib ocre


no mais antigo deserto do mundo, árvores mortas não apodrecem e mantêm-se de pé desde há muitos séculos, quando um rio passava por aqui.
a beleza triste da memória de vida.

a realidade dispensa a nossa existência.


 

2021/07/03

exame de português - código 639

o tempo é como os bifes: bem passado, mal passado e medium rare... (faz de conta que significa meio raro)

o tempo passa e resta a vida.
ontem morri um bocadinho.
hoje estou a morrer um bocadinho.
haverá que viver o que restar.

a vida é como é.
a vida não é como deveria ser.
ainda bem, presumo. não faltariam diferentes opiniões sobre como deveria ser.
pensando melhor, já há. é até coisa que não falta...
eu é que me esqueço, com todos os perigos que isso comporta.

por vezes a vida mais vivida é a que se não vive, tal como eu li ontem num conto do mário de carvalho:
um homem que tivera várias amantes, durante e após um casamento, vivia num lar (era "idoso") e passava os dias a pensar numa única mulher. 

joão da cruz para simão  - "amor de perdição":
"as mulheres são como as rãs do charco, se mergulha uma, aparecem quatro à tona de água."
que merdas andamos nós a ensinar aos cachopos?
que merdas aprendemos nós?
como dizia a Rainha Tonta (ou diria, se fosse mesmo tontinha de todo):
- não são merdas, meu senhor, são rosas.(1)

como a rosa tatuada, que tennessee williams adaptou para cinema, de propósito para uma mulher/actriz (passe a redundância) italiana de olhar magnético.

o mundo passa tão depressa...
tão depressa que até restos de mar nos vêm bater no rosto, nos olhos, na testa, no nariz (no nariz, ainda por cima)...  ainda que se esteja no campo, tão longe da costa. 
agarramo-nos o melhor que podemos ao presente (a costas dadas não se olha o dente) e esperamos o melhor!


(1) - «- Senhor Simão, vossa senhoria não sabe nada do mundo. Não meta sozinho a cabeça aos trabalhos, que eles, como o outro que diz, quando pegam de ensarilhar um homem, não lhe deixam tomar fôlego. Eu sou um rústico; mas, a bem dizer, estou naquela daquela que dizia que o mal dos seus burrinhos o fizera alveitar. Paixões, que as leve o diabo, e mais quem com elas engorda. Por causa de uma mulher, ainda que ela seja filha do rei, não se há de um homem botar a perder. Mulheres há tantas como a praga, e são como as rãs do charco, que mergulha uma, e aparecem quatro à tona da água.»


2021/07/01

ashes scattering


 

heteronomia

numa conversa animada e subversiva com os bambinos, eles falavam de literatura, autores, poesia...
surgiu a frase:
- ricardo reis falava com álvaro de campos e fernando pessoa... fernando pessoa é o das odes triunfais...
eu, muito em surdina: 
- deviam dizer coisas como " 'odes, 'odes... deves 'oder, deves..."

o mainovo riu-se muito. muitíssimo.


2021/06/28

frontier

há algo que respira do outro lado 
da porta que seguramos com as costas...

facas rombas descascam fruta 
demasiado madura
sumarando um fio líquido até ao cotovelo.

há animais,
semi-selvagens e semi-domesticados,
que morrerão antes e que deixarão 
pena
e algumas carinhosas cicatrizes.

e há gatos.

intimacy


 

2021/06/22

state of the art

é melhor ser rico e ter saúde do que ser pobre o doente...
e isto é um dia a seguir ao outro
e há mais marés que marinheiros
e, particularmente, enquanto o pau vai e vem,
guardado está o pecado para quem o há-de comer...


2021/06/21

la maison

os homens não sabem realmente o que lhes dá tusa, e é normal. não nos excitamos todos pelas mesmas coisas. a feminilidade é uma linguagem, um teatro e qualquer pessoa pode dominar esses códigos. aliás… é normal que não haja uma formação para te tornares ‘p***’ porque tudo o que fazemos e nos é ensinado desde que somos pequenas é isso. dizem-te como tens de posar quando te tiram uma fotografia, ou como te deves maquilhar. é uma educação para nos tornarmos ‘p***s’. por isso, digo não haver uma diferença fundamental entre ser uma ‘p***’ e uma mulher. uma ‘p***’ faz o trabalho de ser mulher. o trabalho de ser mulher como o homem o imaginou.

lido aqui...

2021/06/18

4' 30''

apontamento

 na filosofia cristã, a luz é mais o que permite ver do que o que é visto.
tenho de pensar a sério sobre isto, um dia destes.
notas, entretanto:
- a conotação negativa das trevas existe, mas, para além dos nossos medos reais ou projectados (interessante... os vídeos e os filmes são projectados sobre telas brancas, geralmente. sobre a escuridão projecta-se um olhar interior. o interior nem sempre é bonito.), carece de fundamento. pode-se amar na escuridão. podemos ouvir o respirar de um filho saudável durante a noite.
- as auroras boreais (gosto muito da expressão northern lights) ropmpem as trevas para serem vistas. digo eu, que descubro intencionalidades em tudo.
 

micro-estória, XCVII

 há quem sonhe em adormecer a ouvir o mar, depois de ver pirilampos.
até pessoas que não sonham.


2021/06/13

focus

 


california dreaming...

 



poema adiado

um dia saberei dizer 
do brilho 
da serenidade 
da vida 
da alegria

um dia saberei viver 
todos os dias

2021/06/02

almaminha

via-se, como muitas vezes, o vlog de "one cyclist in lisbon".
via-se um vídeo específico...

e viu-se algo que alguém escreveu junto ao castelo de s. jorge:
"os orgasmos não vêm dos órgãos, mas da alma".

amanhã é o dia mundial da bicicleta....


2021/06/01

"i see only limitations..."

moozikha


 

"role model" ou "alga"

alguém a meu lado afirma que, quando era novo, fazia coisas grandiosas, referindo-se a desempenhos físicos de um cariz particular.
esse alguém continua, afirmando que, tivesse hoje os mesmos estímulos, seria capaz de os replicar.
eu não disse nada. mas, como quase sempre quando não digo nada, pensei qualquer coisa...

li isto há muitos anos:


i heard of a man
who says words so beautifully
that if he only speaks their name
women give themselves to him.


estou na mesma…

ecce homo


 

2021/05/26

it´s like poetry, it rhimes..." ou "obras no bloco B da escola"

é injusto reduzir um filme inteiro a uma cena? é. 
mas, por outro lado, há filmes que são minimamente salvos por uma cena (algures por aqui deverá haver uma referência ao filme "irmavep" e à cena da mobilete). 
irmavep é anagrama de vampire. 
a frase supra deverá ser um exemplo de uma palavra que hoje ouvi na rádio e de que gostei: factóide.
este sítio está cheio de factóides.
e de outras coisas:
cotão
gajas
amendoins
pus
naperons
mulheres
água salgada (sortida)
vento
pele
poesia
senhoras
álcool (sortido)
sarugas
hipertricose
ângulo (sortido)
orografia (sortida)
perturbação
marisco
morte
filigrana
mamilos como botões de campainha, como no papalagui (dos antigos, claro)
pedras
fumo
bibelots atingidos por tiros de espingarda de pressão de ar
queda (da livre e da outra)
cabedal
movimento
soneto (sucedâneos, como o "chocolate" espanhol dos anos oitenta)
gaivotas
esferovite.

talvez tenha cerveja...

"delicatessen"
sei que gostei deste filme. sei que deveria revê-lo. como me lembro mal dele, talvez replique a mesma sensação de quando o vi pela primeira vez.
mas sei que gostei (também) por esta cena:

2021/05/25

juice

o earl pool

 the laughing heart


your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.”

charles bukowski


2021/05/22

2021/05/17

2021/05/08

2021/05/06

2021/05/05

3f3m3ro

COMO SE NUNCA
Ángel González


É algo mais que o dia o que morre esta tarde?
O vento,
                          – que leva ele,
que aromas arrebata?
Desatadas de súbito as folhas das árvores
cegas vão pelo céu.
Pássaros altos atravessam, adiantam-se
à luz que os guia.
                               Sombria claridade
será já em outro sítio
 – só por um instante –
madrugada.
      Com bandeiras de fumo alguém me avisa:
      – Olha bem tudo isto;
isto que passa
não voltará jamais
e é como se não tivesse nunca sido
     efémera matéria de tua vida.

and/or

 



state of the art

o que se faz é uma façanha.
sinto na cintura.
saber o sabor.
saudar a saudade.
sevícia. serviço.
a grave gravidade do corpo.





not here


 

2021/05/04

alta-definição

cenas sobre "up close and personal" (também é um filme com a michelle pfeiffer e o robert redford)...:

o "up" anima, o "close" promete, o "personal" é pura felicidade...



consumo com sumo


diz que isto foi desenhado para mountain-bike lovers...
parece-me é que isto foi desenhado especificamente para mim.
(a foto da t-shirt em preto não dava para colocar aqui)


would


 

ex-certo

quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
não sou a destruição cega nem a esperança impossível.

amputado a a. ramos rosa

self-portrait by the sea

2021/04/29

2021/04/28

each one's business

via-se um debate entre crentes e ateus...
fixou-se a atenção numa frase, dita por christopher itchens.
frase muito mais importante do que o argumento onde se encontrava, porque justifica todo o debate:

... this painful business of living as humans...

é assim.
por natureza ou por definição.

quando resistia contra um cancro (ele achava este o verbo adequado, não o verbo lutar...) recordou uma frase que sempre dissera:

... we are born into a losing struggle...

só para enquadramento, registo o pensamento subjacente:

the clear awareness of having been born into a losing struggle need not lead one into despair. i do not especially like the idea that one day  shall be tapped on the shoulder and informed, not that the party is over but that it is most assuredly going on - only henceforth in my absence.


2021/04/27

prosopon

tenho de ir ao dentista, com urgência.
tenho um péssimo hálito.
não me sinto bem.

o meu lado fantasioso diria que não me sinto beijável...




phainomenon

sucede agora que estou a trabalhar ouvindo um álbum com trinta e dois anos. 
ouvi-o muitíssimo há trinta e dois anos. 
há trinta e dois anos as pessoas, algumas, muitas, pelo mundo, ainda ouviam álbuns.

sucede-me, quando ouço música de há décadas, raramente me sinto da minha idade.
tanto me sinto com vinte anos, como me sinto com oitenta anos.
estou em crer que há aqui um sistema de dupla hélice... era, num sentido muito essencial, um puto de vinte anos com espírito de velho. temo pensar que possa vir a ser um velho com espírito de jovem (ao contrário da maioria das pessoas, não acho que isso corresponda a uma maior felicidade).
ambas as situações são desadequadas.

sucede agora que me sinto com a minha idade.
a adequação não é maior...


sorta isabella dreams

s. cole hotel

2021/04/25

2021/04/20

#al_moça

 a baterista no vídeo abaixo escreve coisas engraçadas, quando está com apetite:


Amo-te tanto que era capaz de te partir o coração, só para ter comida para dois.
Amo-te tanto que era capaz de te congelar o coração, só para o poder comer depois.
Amo-te tanto que era capaz de te derreter o coração, só para ter onde molhar o pão.
Amo-te tanto que era capaz de cozinhar um ensopado mal amado, numa panela depressão.


kick-ass catarina

azul cueca :D :D


 

água

a distância é coisa muito relativa...
podemos estar numa esplanada a conversar com alguém,
podemos estar, sofregamente, a beijar alguém,
podemos estar a centenas de milhas náuticas de alguém...
e, ainda assim, estar exactamente no mesmo sítio.


2021/04/17

premutante

 tenho um cartão a dizer que é muito possível que o bill gates já tenha começado a alterar o meu adn...
eu só sou normal nas coisas más.

cá pra mim os tipos da pfeizer não testaram as incompatibilidades  com outros produtos da marca e eu ainda me vou lixar um dia destes...

"(years) long distance call" a "booth in the Midwest..."

sabes do que me lembrei hoje na minha cama?
de estar com a minha boca a beijar, chupar, a deliciar-me em ti, tu a segurar o meu cabelo para me veres aí em baixo.
foi isto.
e depois...
depois vim-me tanto a pensar em nós assim...
fiquei com a boca seca, o rosto dormente...
tão bom...



arquivo

"pragma" ou "ficção científica"

não sei quanto tempo conversámos, ou conversou ela, mas mais, muito mais tarde, ela disse que estava demasiado bêbada (1) para conduzir até casa.
"despe-te e vai para a cama", disse-lhe eu.
"mas nada de fodas", disse ela.
"não tocarei na tua cona."
ela despiu-se e foi para a cama. despi-me e fui para a casa de banho. ela viu-me chegar com um frasco de vaselina.
"o que vais fazer?"
"calma, querida, tem calma."

em mulheres, de charles bukowski
(1) bêbeda na tradução de que disponho. não gosto. a tradução não é a melhor, mas serve... 


há muitos anos, nas aulas de psicologia do 12º ano, e porque o manual adoptado tinha essa referência explícita, lá me decidi a abordar mais a sério a teoria de john alan lee sobre os diferentes tipos de amor. já o tinha tentado antes, mas não gostava o suficiente dos alunos a ponto de preparar este assunto convenientemente (pearls to swine e cenas dessas)... (não, não sai nos exames nacionais... e outras merdas dessas). os três tipos primários de amor são: paixão, companhia e respeito. há nuances entre estes que dão origem a outros tantos tipos secundários, um deles o amor pragmático, que não deve ser confundido, pelo menos numa abordagem superficial, com a referência acima.

à paixão, pois claro, corresponde o eros...

erotic lovers view marriage as an extended honeymoon, and sex as the ultimate aesthetic experience. They tend to address their lovers with pet names, such as "sweetie" or "sexy". an erotic lover can be perceived as a "hopeless romantic". the erotic lover wants to share everything with and know everything about their loved one, and often thinks of their partner in an idealized manner. the erotic lover's reaction to criticism from their partner is one of hurt and intense pain. The erotic lover's reaction to separation from the partner is agony and despair. those of other love styles may see erotic lovers as unrealistic, or trapped in a fantasy.

the view from within...

2021/04/15

2021/04/14

"clintóris" ou "gosto do refrão"

donne

chegou hoje no correio um livro que me suscita curiosidade há muito tempo: mulheres, de charles bukowski. 
quem abriu a encomenda foi M., que, após ter desinfectado o livro, me disse: também já te ouvi a falar deste.
comecei a folhear o livro, para indignação da primogénita (não vais passar o meu tempo de qualidade a ler, vais?). adaptei-me e consegui autorização para ler a badana:

mulheres parece ser um romance de sexo e de álcool, mas na realidade é um poema sobre o amor e a dor.

é mesmo o que eu estou a precisar...




2021/04/13

foo turo

"aos oito homens sentados ao redor da mesa tinha sido encomendado que reflectissem sobre as consequências de um futuro sem morte (...). melhor então seria não fazer nada, disse um dos filósofos optimistas, os problemas do futuro, o futuro que os resolva. o pior é que o futuro é já hoje, disse um dos pessimistas..."

de as intermitências da morte, de josé saramago.

2021/04/12

centenas

ouço, numa voz que me tem encantado por estes dias, isto:

tenho sede
há quinhentas noites que tenho sede
tu e eu temos de ser mais
que peixe-preso numa rede

vejo o mundo do avesso
e só nesse abraço esqueço
o desassossego de ir à pressa
a vida toda, como promessa

tenho fome
há quinhentas noites que tenho fome
o nosso laço tem de ser mais
que facebook.com

lembrei-me de um texto escrito por mim, há muitas vidas (antes das redes sociais) e de que me orgulho.
está aqui, sob o título de phalta...
(não estou a comparar, claro)

2021/04/11

santo não sei, mas parvo não...


 

no sad blonde diva

há algo de feminino na forma como ouço algumas canções, algumas vozes femininas.
também haverá algo disso na minha forma de escrever "canções", presumo.
não sei. 
se há, isso é partilhado com outros homens que também (pretensão e água benta... e uma rodela de limão) escrevem canções. 
alguns. 
uma minoria, mas é entre esses que eu tendo a encontrar as minhas referências (leonard cohen, martin l. gore, sivert høyem... ). mas sempre achei que esses não eram bem iguais aos outros.

há tempos disseram-me "...és homem", quando, uma hora antes, poderiam ter achado a expressão manifestamente deficitária.
adiante...

(vou perpetuar a injustiça e começar por aqui:)
arthur miller foi casado com marilyn monroe.

arthur miller escreveu, peças de teatro e romances. por exemplo, "a morte de um caixeiro-viajante" e "as bruxas de salem" - "the crucicle" é o título original, muito mais adequado. gosto muito da palavra, sempre gostei, desde a infância, quando eu passava dias a fundir chumbo numa forja e a fazer lingotes, até aquilo explodir e mamãe dizer que era um perigo. continuei a gostar da palavra crucible e de fundir chumbo, agora às escondidas e agora também pelo perigo.
eu comecei a fundir muito cedo.
já fundo há décadas...

arthur miller morreu aos 88 anos e viveu os últimos dois com uma artista, agnes barley, quase sessenta anos mais nova do que ele.
arthur miller dizia coisas com as quais eu me identifico, coisas que eu já disse sem saber que ele as tinha dito. por exemplo: "i like the company of women. life is boring without them".

arthur miller, no fim da sua vida, disse algo como "maybe all one can do is hope to end up with the right regrets..."

talvez.
o que é certo é que eu me identifico com isto, também.
nunca o disse. nunca o tinha pensado, assim tão claramente.
talvez o comece a dizer, se surgir oportunidade...
o pior é desconfiar que nem todos os meu arrependimentos são os certos.
ser homem é um destes, acho.
ainda sou novo. 
talvez aos oitenta eu saiba avaliar isso melhor.




cool girls

 li isto e gostei...

a_garota_nao

Não é tristeza, amor
É que a música pacifica os cantos da boca.

a dama, stôr...

2021/04/10

seaside eros

 

apareceu-me esta foto agarrada a um poema de fernando pessoa (não particularmente belo ou interessante).
mas se há coisa poética são erecções na praia.
algumas, pelo menos.


2021/04/08

simplicity - the quality or condition of being easy to understand or do.

há cerca de vinte anos que procuro um poema de antónio ramos rosa.
não sei como se chama ou em que livro está.
sei que, se o reencontrar, o identifico e reconheço claramente.
mas, como diz o povo (eu não sou povo, sou mais estúpido do que o povo): quem procura, acha (mesmo que não ache o que procura).
achei este, que se chama:

os simples

acabaram-se talvez os excessos e os impulsos
dissipámo-nos na luz como uma sombra.
mas as palavras continuam feridas e comovem-se
em presenças verticais no vento, em obscuras chamas.
que alianças, que pedidos sem fim, que consentimentos
perduram ainda nas palavras feridas!
é já a música nos flancos e nos ombros 
e a argila leve do desejo e um frémito de folhas
e o vento e a ausência que quase diz um nome.
nós aceitámos o ardor e o luto, o deserto das mesas.
porque quisemos recomeçar na génese das pedras
ao nível do repouso simples das folhas e da cinza.


lembrei-me de uma das canções da minha vida, ainda que a despropósito...

all is coming to an end, anyway..






















era isto ou dizer que a coisa mais divertida dos últimos tempos foi a frase "comprei pimentos pardon"...

fraquinho, fraquinho, fraquinho...

sea salter

2021/04/05

2021/04/01

quand s'aime?

 

livro de capa mole...

 "... o afecto. talvez seja este o mais elegante dos sentimentos humanos, a sensação de bem-estar, a alegria de partilhar, o sentimento de unidade com outro ser humano. quando andamos juntos de mãos dadas (eu prefiro de braço dado), quando nos sentamos juntos, à noite, a ler, quando rimos juntos num filme ou vagueamos num jardim ou numa praia, as nossas almas fundem-se. o mundo inteiro é um paraíso."

"são os olhos, não o coração, os genitais ou o cérebro, que dão início ao romance. a partir do olhar é que ocorre o sorriso." (1)

lê-se isto e pensa-se nos gregos e na sua definição de felicidade: um instante de vida que vale por si mesmo. (a memória deveria servir quase só para guardar momentos)

(1) - "anatomia do amor", de helen e. fisher

2021/03/30

2021/03/29

qu15nze

foi em março, há quinze anos, que este sítio apareceu. 
apareceu já numa fase em que os blogues estavam a ficar fora de moda. mas gosto de manter certas coisas... 

já me acusaram de viver muito no passado. 
percebo que o façam. 
o presente, a única coisa que se tem, passa demasiado depressa. 
o futuro está sempre tão em aberto... 
mas isso também se aplicaria ao (meu) passado. 
quando não se vê um futuro é muito tentador voltarmo-nos para o passado. 
quando o presente é difícil também. 

mas, por mais difícil que tudo seja, o futuro tanto pode trazer coisas boas como más (para estes momentos de clarividência continuo a depender dos outros)... 

a primeira coisa de que me lembrei, ao perceber a longevidade deste "registo", foi o livro do neruda "confesso que vivi" (nunca li). 
mas, felizmente, lembrei-me de outra coisa: estou vivo. muito vivo, até. tão vivo que até dói.

as dores de estar vivo são sempre preferíveis às dores de não viver.