sinto-me coiso.
há já algum tempo que me ando a sentir assim coiso...
há algo indeterminado que me anuncia que estou a voltar ao meu estado habitual...
o homem é um animal de hábitos e eu, vá-se lá saber como, também o sou. talvez mais animal do que de hábitos, mas mesmo assim...
escrevi num papel, há uns anos, que desassossego é aquilo que se sente quando não nos conseguimos habituar ao nosso estado habitual.
nesse mesmo papel escrevi também algumas considerações sobre o "estado normal - desdobramento indagatório"... a pessoa que leu o papel apenas disse: tu, quando escreves estas coisas estás no teu estado normal? respondi-lhe que não, mas não (nem sempre, talvez) no sentido de embriagado. antes na constatação de a única possibilidade ser a de um princípio de a-normalidade que me subjaza.
ela disse que eu era parvo e eu concordei. disse-lhe que tinha as orelhas muito bonitas, enquanto jantávamos. achei-lhe jeito.
eu sou doente... tenho a ideia fraquinha... fico em pouco, muitas vezes...
um dia destes vão dar o meu nome a uma rua e vão erguer-me uma estátua (escala 2:1) na praça nobre. as placas toponímicas serão de cartolina e o devaneio tridimensional supramencionado será de papel-cenário. e tudo só por causa das coisas. exemplo de coisa: achar piada a um título de um post ("l'amour é mas é o caralho!", no blog do irmão lúcia) e achar piada ao esforço necessário para conseguir coisas...
estou, neste momento, sozinho no meu local de trabalho. não é novidade, isto. acontecia-me amiúde lá...
afinal ainda não perdi totalmente a capacidade de reconhecer coisas boas nas coisas.
dizia eu: estou sozinho. há um relógio de parede com um muito audível tiquetaque (imagine-se um tló-tlê abafado como onomatopeia e a coisa faz-se)... tudo está calmo. o entardecer está muito visível pela janela grande. vejo o perfil da serra. depois daquele monte há outro, depois há outro, depois outro ainda, difícil de subir, quando se vem de bicicleta dos lados da EN1, que ainda foi ontem que me meti nessa empreitada, mas a seguir desse, quase, é o mar.
vou aproveitar este tempo para fazer aqui coisas até esta hora.
está-se muito bem aqui assim.
...
um dia destes vou aperceber-me de que estou a morrer e, diferentemente de tudo o que eu penso que pensarei naquele momento, não sentirei medo. sentirei talvez vergonha. sentirei pena.
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